sexta-feira, 4 de abril de 2008

Em Busca De Um Sexo Bem Melhor

As mulheres decidem virar o jogo e vão às clínicas especializadas para discutir os problemas físicos e psicológicos que atrapalham sua vida sexual e a do parceiro.
Nada de deixar frustrações debaixo do travesseiro. Para felicidade geral do casal, as mulheres começam a mudar de atitude em relação à sexualidade. "Em menos de uma década, a brasileira passou a se importar bem mais com a própria saúde e satisfação sexual", diz a psiquiatra e sexóloga Carmita Abdo, de São Paulo. Para fazer essa afirmação, a especialista se baseia no aumento da presença feminina no consultório dos terapeutas sexuais e serviços e institutos de saúde, fenômeno que ainda não ocorria no começo dos anos 90. No serviço que coordena, o Projeto Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, por exemplo, em 1993 havia seis vezes mais homens do que mulheres em tratamento. Hoje, são atendidos dois homens para cada mulher. É uma revolução entre os lençóis. É mais do que compreensível. Afinal, a sexualidade é um dos indicadores para ava-liar a qualidade de vida de uma pessoa, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Isso dá idéia da importância de tentar resolver os conflitos, as tensões e as angústias sexuais: quanto melhor a vida na cama, melhor a vida fora dela (os outros três critérios considerados pela OMS são a manutenção da vida profissional, a convivência familiar e o lazer fácil). E sexo bom, para os terapeutas sexuais, é aquele que se faz como a pessoa deseja, desde que não esteja interferindo nem limitando a liberdade sexual do parceiro.
O problema, porém, é atingir o que reza essa definição. Por falta de informação, timidez ou conformismo, é gigantesco o número de mulheres infelizes na cama (leia quadro ao lado). A queixa de dificuldade para atingir o orgasmo, por exemplo, está presente em cerca de 65% das consultas sobre sexo, segundo os cálculos de Carmita Abdo. Três situações servem de cenário para os casos de anorgasmia (falta de orgasmo): ausência de desejo, desinteresse pela relação sexual e tendência a escapar dela. Num tipo frequente de anorgasmia, a mulher sente desejo, mas não consegue entrar na fase de excitação e lubrificação que vem antes da descarga energética do orgasmo. Em outros casos de anorgasmia, a mulher tem desejo e capacidade de se excitar, mas não chega ao clímax. "Já nos casos de disfunção sexual geral, a mulher tem o desejo, a lubrificação e o orgasmo preservados, mas sente dificuldade em se envolver eroticamente e usufruir do contato sensual durante o sexo", explica o sexólogo Oswaldo Martins Rodrigues Júnior, diretor do Instituto Paulista de Sexualidade e da Federação Latino-Americana de Sociedades de Sexologia e Educação Sexual (Flasses). Para todas essas situações existem opções de tratamento, como a psicoterapia individual de tempo limitado, com duração de 12 a 20 sessões e encontros semanais.
Efeito-surpresa
Terapeutas sexuais e laboratórios estão estudando as novas situações experimentadas pelos casais nos quais o homem utiliza medicações orais para a disfunção erétil. Um dos efeitos-surpresa foi a necessidade de readaptação de algumas mulheres à recuperação da potência sexual do companheiro. "Muitas vezes, a mulher se beneficia do baixo desempenho do parceiro, mantendo algum tipo de controle sobre a situação sexual", afirma a sexóloga Carmita Abdo. Por isso, ao terem de volta um parceiro com condições de ter uma ereção, muitas têm dificuldades em retomar a vida sexual no ritmo experimentado antes. Mas quando a mulher está mais bem resolvida em relação à própria sexua-lidade a reação costuma ser receptiva ao novo padrão erótico do parceiro.
Viagra
Uma das opções em estudo, no entanto, é a utilização das mesmas drogas desenvolvidas para tratar problemas de disfunção erétil masculina. Testes com o Viagra e o Vasomax mostram que os remédios parecem ter efeito nas mulheres, facilitando, entre outras coisas, a irrigação sanguínea e a lubrificação vaginais - dois fatores físicos importantes para se chegar ao orgasmo.
Mas não é só a falta de orgasmo que impede o prazer. A pouca vontade de fazer sexo, por exemplo, preocupa. Além de motivos como excesso de trabalho, tripla jornada e stress, a falta de desejo às vezes pode ser consequência de sintomas físicos associados a doenças como pressão alta (alguns medicamentos para controle da hipertensão também estão na lista de substâncias com chance de reduzir a libido) e problemas cardiovasculares, pois é uma reação natural tentar poupar-se de esforços para proteger o coração. Dores articulares, reumáticas e até o sedentarismo podem golpear a vontade de fazer sexo na medida que reduzem a flexibilidade que facilita os movimentos corporais. A depressão também tem papel importante entre os inimigos da disposição sexual.
Penetração
Sentir dores ou desconforto na relação sexual também é uma situação bem mais comum do que se pensa. Cerca de 66% das mulheres têm alguma queixa de dispareunia (dores na penetração). "Mas se o desconforto não for intenso, normalmente as mulheres não procuram a fonte da dor e acham uma forma de ir levando", revela Martins Rodrigues Júnior. A penetração antes de a mulher se sentir devidamente lubrificada é o fator que mais provoca esse tipo de desconforto. Outras vezes, as causas são psíquicas (como conflitos emocionais ou dificuldades com o parceiro), mas há situações como inflamações, infecções e tumores na área genital que podem causar contrações e dores. Por isso, é importante não deixar nenhum tipo de sintoma sem diagnóstico e tratamento. A dispareunia é considerada uma forma mais branda do vaginismo, uma contração muscular involuntária dos músculos da região que impede a penetração. Essa disfunção, que tem causas físicas e psíquicas (semelhantes às da dor na penetração), afeta cerca de 4,5% das mulheres atendidas em serviços de sexualidade. Dependendo do caso, o tratamento tanto da dispaurenia como do vaginismo pode combinar a psicoterapia de tempo limitado com exercícios locais específicos e medicamentos que diminuem a ansiedade.
Dificuldades no prazer
35% das mulheres sentem desejo, têm capacidade de se excitar, mas não atingem o orgasmo
25% das mulheres não sentem desejo
4,5% das mulheres sentem desejo, mas não chegam ao orgasmo. Só se excitam
35,5% das mulheres têm outros problemas sexuais (aversão sexual, dores na penetração, vaginismo, impulso sexual excessivo, homossexualidade não assumida)
50% das mulheres que chegam ao orgasmo se excitam com a penetração. A outra metade se excita apenas se houver estimulação do clitóris
Diálogo
Apesar das dificuldades, a mulher busca acertar os ponteiros sexuais com o parceiro - esse é o motivo principal de 30% das consultas aos terapeutas. "As mulheres compreendem mais facilmente outras situações associadas ao problema sexual do que o homem e se preocupam mais com o tratamento do casal com problemas sexuais", diz Martins Rodrigues Júnior. Tanto é assim que nos consultórios dos sexólogos as mulheres ainda comemoram quando levam o parceiro para uma consulta. Para os especialistas, é na conversa, de fato, que boa parte dos problemas pode ser resolvido. "Mas o diálogo sobre sexo ainda é cheio de dificuldades", diz a psicoterapeuta e terapeuta sexual Vera Lúcia Vaccari, do Instituto Paulista de Sexualidade. "Muitas vezes a mulher não consegue falar dos seus problemas sexuais com o parceiro e assume culpas que não deveria porque sente desconforto na relação", afirma. Falar sobre sexo entre quatro paredes de fato ainda não é uma situação tranquila. Mas pelo menos as mulheres estão dispostas a discutir o assunto.

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